Recentemente um homem dito pastor de uma pequena igreja nos EUA ameaçou queimar exemplares do Alcorão, sob forma de protesto aos ataques as Torres Gêmeas no 11/09. Este ato acabou por chamar a atenção da mídia internacional, inflamando fundamentalistas do Islã - dada a tamanha ofensa em relação ao seu credo.
Independente do credo, das consequências, da literatura, da ação da mídia e da fé por trás da façanha, vamos analisar isoladamente o comportamento do pastor, a qual poderia ser aplicada também em relação à outros exemplos: incentivo à violência. Mesmo que não aja uma retaliação por parte dos agredidos (e mesmo que aja), temos aí um caso de típica intolerância - cuja consequência é retratada através da violência moral apresentada pelo episódio.
Basicamente o slogan da provocação diz: Dia Internacional da Queima de Alcorãos no Próximo Dia 11/09. Uma campanha que obviamente chocou pessoas ao redor do mundo justamente por ser insensata. A insensatez não é doravante de caminhar sinuosamente por um terreno perigoso - que é por onde caminha os fundamentalistas mulçumanos - mas está mais relacionada a atitude de um homem em desrespeito aos demais.
Ainda que o assunto não tomasse tamanha proporção - mesmo que não deixe de ser um suculento alimento para a mídia - e ainda que fosse um caso isolado de sua vizinhança ou do seu ciclo de relacionamentos, o fato é que temos aí um desvio lógico de comportamento social. Basta acompanhar: quando retiramos todas as camadas e deixamos o objeto de análise desnudo observamos que não há sentido em queimar livros - independente de posição ética e social. Quando agregamos ao objeto um valor, como é o caso, além do conteúdo passamos a ter alguma preciosidade implicita que diz respeito a algo ou alguém - o valor é condicionado à experiência do sujeito em relação ao objeto.
Quando pensamos em destruir este objeto, temos então uma demonstração de poder destrutivo ao objeto condicionado que fere a moral daqueles que o condicionam. Ou seja, não temos aqui somente um protesto, mas uma vontade de ferir o espírito alheio, seja motivado por vingança, ódio ou qualquer outro sentimento malígno que extrapola os limites da razão. O assunto não condiz com seguir um caminho diferente da normalidade, mas de seguir um caminho distante do que se espera daqueles que tenham o chamado bom senso (que é um capítulo a parte a ser discutido).
Curiosamente, ainda que a análise se aplique a qualquer um, temos aí um pastor, uma pessoa que, em tese, deveria ser a antítese do pensamento negativo. Claro que ele sabe e entende o seu ato, então só nos resta duas alternativas: ou este cidadão está agindo por uma ideologia de mudança, onde os cristãos vem perdendo seguidores em contrapartida aos muçulmanos, que aumentam sua presença em países onde o Islã não é a religião predominante (inclusive nos EUA, onde um templo islâmico deve ser inaugurado nas imediações do WTC - o que também não é saudável), ou então é um charlatão em busca de publicidade - possibilidade que deve ser seriamente considerada em vista aos novos fatos (foi noticiado que o pastor não irá mais queimar os livros).
Ainda que a publicidade barata pareça ser o real objetivo de tal pastor, este não é o escopo deste artigo - logo não iremos a relevância da imagem/aparência no mundo (o que pode ser encontrado com facilidade em diversos outros bons artigos publicados em outros blogs), mas sim a relação entre signo, significados e significantes no episódio do pastor. Ao classificarmos o livro Alcorão, temos um significante que trás consigo um significado sacro na vida islâmica, um significado de terror visto pela ótica sensacionalista da mídia internacional e um significado de desdem para aqueles que foram afetados de alguma forma no episódio do WTC.
Três significados totalmente diferentes para o mesmo significante. Isto ocorre por que o signicante possui signos diferentes. Visto que numa relação hiper-real é o objeto que orienta o sujeito, fica claro entender por que há tanta especulação, divergência e motivações distintas em torno do mesmo objeto.
Mesmo com uma explicação filosófica para a coisa em si, o ser humano foi dotado de discernimento para saber se os seus atos são bons ou ruins. Por isto afirmei que o pastor, por mais que tenha motivações, seja por merchandising ou por ideologia, sabe exatamente que aquilo que ele estão fazendo não é bom e nem poderia repercutir de uma maneira positiva.
É este discernimento que faria você estranhar o fato de seu amigo queimar um livro, ainda que fosse qualquer um da saga Crepúsculo, por puro prazer. O mais provável é que você diria consigo que falta um parafuso no cérebro de seu amigo, afinal ele poderia simplesmente vender, doar ou mesmo jogar o livro na lixeira, sem causar nenhum barulho através deste ato.
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