Hiper-Realidade Platônica

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O Sistema do Injusto

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Casamento a Distância

Casamento a Distância
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Beep... Amem...

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The Tiririca Effect

quarta-feira, 29 de setembro de 2010


Novamente estamos em tempo de eleições presidenciais. Aquele momento de consciência adquirida onde a "democracia" fala em alto e bom som, cujo futuro do país é decidido pelas massas e a nossa relevância é tão grande que nosso desejo de interferência e direção é atenuado a níveis estratosféricos - tanto é que o nosso "anseio" pelo voto o torna obrigatório. Chegamos naquele momento onde deixamos de ser merda e passamos a ter importância para quem controla as rédeas de nosso maravilhoso país, que não tem culpa alguma se os dirigentes a qual elegemos não fazem jus as suas riquezas e a sua imensidão.

É tempo dos políticos eleitos mostrarem o quão árduo é o seu trabalho e o quanto foi feito até então. Devemos, inclusive, nos sentirmos penosos por não agraciarmos tão belo trabalho. De fato, somos sujeitos sem um mínimo de educação, visto que bastaria um mísero obrigado aos responsáveis por tanto progresso social. Mas não há problemas, por que estes não são rancorosos, um voto de rendição basta: um voto apenas e o perdão será concedido. Um voto de reeleição.

Eis que surgem novos candidatos que irão sujar as mãos por nós, que irão combater os cavaleiros negros que tomam posse de nossos direitos. Dentre tantas promessas, temos o sonho de Moisés e a jornada pela Terra Prometida, que jamais saiu do papel e que hoje é apenas um dos tantos nomes da Utopia. Estes novos candidatos trazem debaixo do braços apenas mais do mesmo: propostas já conhecidas, propostas já trabalhadas, propostas e propostas.

Daquelas ruas esquecidas por entre becos sinuosos, cobertos por uma escuridão tão profunda que a própria palavra não vinga tamanha obscuridade, surge, como as canções perdidas no tempo, os mais sangrentos escândalos de todas as gerações. Ataques cruéis, ataques sem pudor. E nós, o povo reprimido, sem ser consultado, somos obrigados a observar a formação do picadeiro. O fantástico circo de Brasília está armado. Mas que circo estranho é este onde não podemos sorrir? Onde os artistas fingem seriedade nas mais engraçadas piadas? Queremos gargalhar, porém neste espetáculo a risada está proibida.

Então os anos acumulados de riso contido parecem, enfim, que irão acabar. No picadeiro do universo, neste palco manchado, surge o velho palhaço - e nós quase estouramos de tanto rir. Sim, deixaram o palhaço para o fim do espetáculo por que eis o protagonista da profanação de nossa seriedade. O palhaço é a resposta para a subestimação do poder popular. O palhaço é o retrato vivo de como o nosso olhar vislumbra estes demônios nojentos de terno e gravata que finalmente vem até a nós. E quando se misturarem a nós como se fizessem parte das pobres comunidades e perguntarem com a boca escancarada com dentes brilhantes "cadê o palhaço?" vamos lhes oferecer o espelho da verdade nata e questionar ironicamente "agora pode ver o palhaço?".

O voto no palhaço figura o voto da ironia, da retomada do poder pelo povo, do sentimento que não queremos mais ser enganados. O voto no palhaço não é nada mais do que a nossa vez de fazermos uma piada engraçada. O voto no palhaço representa o voto num ser que não se esconde por trás do seu disfarce, que não finge ser aquilo que não é, senão um mero palhaço, que traz em seu figurino e dentro de sua cartola uma série de palhaçadas explícitas - nada fingido, nada que fuja ao propósito de ser o que se é.

Se debaixo da lona temos uma série de outros palhaços dissimulados, cuja carapuça cai com este que não se esconde, se temos tantos palhaços eleitos, será que devemos colocar mais um lá? Já contamos a nossa piada, já mostramos o nosso valor, será que não seria esta uma boa hora para removermos a figura do palhaço parlamentar? Sim, senhores, já mandamos a nossa mensagem e mostramos a nossa insatisfação. Claro que o sol continuará a brilhar, mas também haverá tempestades e dias frios - tentemos, então, evitar a tormenta, pois no fim somos nós que ficamos soterrados debaixo deste mar.

O Pastor Que Queria Queimar Alcorãos

sábado, 11 de setembro de 2010


Recentemente um homem dito pastor de uma pequena igreja nos EUA ameaçou queimar exemplares do Alcorão, sob forma de protesto aos ataques as Torres Gêmeas no 11/09. Este ato acabou por chamar a atenção da mídia internacional, inflamando fundamentalistas do Islã - dada a tamanha ofensa em relação ao seu credo.

Independente do credo, das consequências, da literatura, da ação da mídia e da fé por trás da façanha, vamos analisar isoladamente o comportamento do pastor, a qual poderia ser aplicada também em relação à outros exemplos: incentivo à violência. Mesmo que não aja uma retaliação por parte dos agredidos (e mesmo que aja), temos aí um caso de típica intolerância - cuja consequência é retratada através da violência moral apresentada pelo episódio.

Basicamente o slogan da provocação diz: Dia Internacional da Queima de Alcorãos no Próximo Dia 11/09. Uma campanha que obviamente chocou pessoas ao redor do mundo justamente por ser insensata. A insensatez não é doravante de caminhar sinuosamente por um terreno perigoso - que é por onde caminha os fundamentalistas mulçumanos - mas está mais relacionada a atitude de um homem em desrespeito aos demais.

Ainda que o assunto não tomasse tamanha proporção - mesmo que não deixe de ser um suculento alimento para a mídia - e ainda que fosse um caso isolado de sua vizinhança ou do seu ciclo de relacionamentos, o fato é que temos aí um desvio lógico de comportamento social. Basta acompanhar: quando retiramos todas as camadas e deixamos o objeto de análise desnudo observamos que não há sentido em queimar livros - independente de posição ética e social. Quando agregamos ao objeto um valor, como é o caso, além do conteúdo passamos a ter alguma preciosidade implicita que diz respeito a algo ou alguém - o valor é condicionado à experiência do sujeito em relação ao objeto.

Quando pensamos em destruir este objeto, temos então uma demonstração de poder destrutivo ao objeto condicionado que fere a moral daqueles que o condicionam. Ou seja, não temos aqui somente um protesto, mas uma vontade de ferir o espírito alheio, seja motivado por vingança, ódio ou qualquer outro sentimento malígno que extrapola os limites da razão. O assunto não condiz com seguir um caminho diferente da normalidade, mas de seguir um caminho distante do que se espera daqueles que tenham o chamado bom senso (que é um capítulo a parte a ser discutido).

Curiosamente, ainda que a análise se aplique a qualquer um, temos aí um pastor, uma pessoa que, em tese, deveria ser a antítese do pensamento negativo. Claro que ele sabe e entende o seu ato, então só nos resta duas alternativas: ou este cidadão está agindo por uma ideologia de mudança, onde os cristãos vem perdendo seguidores em contrapartida aos muçulmanos, que aumentam sua presença em países onde o Islã não é a religião predominante (inclusive nos EUA, onde um templo islâmico deve ser inaugurado nas imediações do WTC - o que também não é saudável), ou então é um charlatão em busca de publicidade - possibilidade que deve ser seriamente considerada em vista aos novos fatos (foi noticiado que o pastor não irá mais queimar os livros).

Ainda que a publicidade barata pareça ser o real objetivo de tal pastor, este não é o escopo deste artigo - logo não iremos a relevância da imagem/aparência no mundo (o que pode ser encontrado com facilidade em diversos outros bons artigos publicados em outros blogs), mas sim a relação entre signo, significados e significantes no episódio do pastor. Ao classificarmos o livro Alcorão, temos um significante que trás consigo um significado sacro na vida islâmica, um significado de terror visto pela ótica sensacionalista da mídia internacional e um significado de desdem para aqueles que foram afetados de alguma forma no episódio do WTC.

Três significados totalmente diferentes para o mesmo significante. Isto ocorre por que o signicante possui signos diferentes. Visto que numa relação hiper-real é o objeto que orienta o sujeito, fica claro entender por que há tanta especulação, divergência e motivações distintas em torno do mesmo objeto.

Mesmo com uma explicação filosófica para a coisa em si, o ser humano foi dotado de discernimento para saber se os seus atos são bons ou ruins. Por isto afirmei que o pastor, por mais que tenha motivações, seja por merchandising ou por ideologia, sabe exatamente que aquilo que ele estão fazendo não é bom e nem poderia repercutir de uma maneira positiva.

É este discernimento que faria você estranhar o fato de seu amigo queimar um livro, ainda que fosse qualquer um da saga Crepúsculo, por puro prazer. O mais provável é que você diria consigo que falta um parafuso no cérebro de seu amigo, afinal ele poderia simplesmente vender, doar ou mesmo jogar o livro na lixeira, sem causar nenhum barulho através deste ato.