Hiper-Realidade Platônica

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O Sistema do Injusto

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Casamento a Distância

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Beep... Amem...

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Fanaticos Hiper-Reais: Jonestown

segunda-feira, 25 de outubro de 2010


Como dito num artigo anterior, aceitarmos as coisas que são ditas para nós como verdades absolutas só pode ser um vício. Ignorância não é virtude. Entretanto, em troca de harmonia e convivência pacífica, acabamos por fazer vistas grossas para quem pensa diferente. Nem sempre isto é correto, mas como convivemos com homens, com seus instintos animais e sua insanidade natural, é prudente que sejamos toleráveis se quisermos sobreviver enquanto espécie. Porém o universo insiste em trazer em sua bagagem histórica os mais macabros episódios que vão além de qualquer tolerância que possamos ter.

Fanatismo é algo para ser combatido. O fanático não pensa com seu lado racional. O fanático apenas se assemelha a um homem, porém está bem longe disto. Sabendo disto, nós não temos como sermos condizentes com tais atitudes, visto que não temos oportunidades para tal. Não há diálogo e nem salvação para o fanatismo, por isto mesmo ele deve ser dizimado para que pessoas não saiam feridas, incluindo eles mesmos. Há fanatismos de todas as espécies, que vão desde o culto a sua própria raça, passando por estandartes carregados num uniforme escolar, e vão até centrais de entretenimento - como os times de futebol.

Entretanto este artigo será calcado num episódio de fanatismo religioso - para aqueles que têm fé no divino não levem isto como perseguição, apenas acompanhem o caso e se solidarizem comigo: levem o caso para suas comunidades, discutam e ajudem a combater o verdadeiro inimigo, que é a aversão ao direito de estar vivo em decorrência de uma opinião extrema. É preciso moderação em todos os aspectos do universo, seja em âmbito físico ou metafísico.

Vocês já ouviram falar do Massacre de Jonestown? Este caso foi o elegido por mim para ser revisitado e analisado. Se você já conhece, sabe exatamente de que tipo de insanidade social eu estou me referindo, logo entende o meu sentimento de aniquilar qualquer tipo de fanatismo. Se não conhece basicamente temos um líder autoritário e carismático de uma seita religiosa, que pediu para que todos os seus fieis se suicidassem, totalizando cerca de 914 corpos, incluindo o seu mesmo - não lembra um pouco um austríaco famoso de bigodinho ordinário de um tal partido nacional socialista alemão?

O Início do Templo dos Povos

Quem esteve por trás da façanha foi um homem chamado Jim Jones, nascido em 1931 em Indiana, nos EUA. Desde pequeno ele já demonstrava sinais de fanatismo religioso, conforme depoimento de seus colegas da época, chegando mesmo a promover verdadeiros enterros de animais. Houve até mesmo uma situação onde ele mesmo assassinou um gato com uma faca apenas para fazer o seu funeral. Morte e culto religioso estavam enraizados dentro menino desde os tempos mais remotos. Jim Jones vem de uma família disfuncional: seu pai não trabalhava e era alcoólatra, enquanto o papel de sustento ficava por conta de sua mãe.

Após fazer um curso por correspondência, nos anos 50, ele fundou uma igreja sobre os princípios cristãos e socialistas chamada Templo dos Povos, onde defendia uma igreja para todos, sem distinção racial ou social. Tanto as pessoas brancas como as pessoas negras eram tratadas de maneira singular, de modo que numa época de opressão e racismo, a igreja passou a ter bastante popularidade em castas carentes de Indiana, abrangendo uma grande concentração negra entre os seus membros. Até mesmo o modus operandis da igreja lembra muito aquele estilo gospel que costumamos ver em igrejas negras protestantes nos EUA, com muita dança e muita música.

É compreensível a adesão de tantas pessoas nesta seita. A Indiana sempre teve uma tradição conservadora, onde os negros eram reprimidos pela vizinhança e conviviam com os brancos em situações desiguais. Jim Jones foi o herói local daquele tempo. Ao exterminar a diferença dentro de sua comunidade surgia um refúgio de liberdade para os excluídos - como se a sensação de inclusão social fosse generalizada. Logo as pessoas abandonaram suas vidas e passaram a viver os ideais de Jim Jones, que simulava uma felicidade real e um caminho para a realização dos sonhos dos carentes. Percebam que o discurso fantasioso passa a ser crível - mesmo que tão distante do real - para aqueles que desejam simplesmente fugir do real a qual pertencem.

Além do quê, Jim Jones explorava a ideologia socialista e sempre tramou criar uma sociedade igualitária na sua comunidade. Para isto os fieis depositavam todos os seus rendimentos e suas propriedades em função da igreja, que empregava todos os recursos para abastecer por igual todos os membros. Se alguém precisasse de roupas, a igreja providenciaria. Se alguém precisasse de sua saúde, a igreja também providenciaria médicos. Além disto, os próprios membros trabalhavam a exaustação na infraestrutura do Templo dos Povos, que iriam desde a jardinagem até a marcenaria e obras como um todo. Eles se sentiam numa comunidade e justa e realmente acreditavam fazer parte de uma mudança social.

Conforme depoimentos, as pessoas se vangloriavam de dormir pouco para trabalhar na comunidade. Diziam que era vergonhoso você dizer que dormiu duas horas numa noite, quando um colega dizia que dormiu somente uma hora e meia. Mas claro que o trabalho a exaustão pode ser considerado uma estratégia de dominação por parte de Jim Jones: quanto mais cansadas, mais indefesas e suscetíveis as pessoas ficam. Aliado a um clima de pressão religiosa, com cultos ideológicos e morais, o que podemos concluir é que as pessoas vitimaram-se em torturas físicas e psicológicas e saíram totalmente do controle de si. Deste modo Jim Jones torna-se mentor e controlador da mente de seus membros.

Um Líder Narcisita e Problemático

Entre as bizarrices de suas mensagens, Jim Jones dizia abertamente que todos os homens e mulheres eram homossexuais, com a exceção de si mesmo. A atração provocada entre um homem e uma mulher era apenas um desvio de comportamento que tirava o foco maior na concentração dos deveres de uma sociedade igualitária. Entendam como quiserem, mas o fato é que o líder mantinha relações sexuais abertamente com os seus membros, fossem homens ou fossem mulheres.

Com o culto de suas ideologias, Jim Jones passa ao status de semideus e ignora até mesmos certos ensinamentos básicos cristãos: segundo testemunho ele chega a arremessar uma bíblia bem longe e ao cair no chão ele diz algo como "Vê? Nenhum raio me partiu ao meio e nada aconteceu comigo. Isto por que devemos criar o paraíso aqui. Se você quiser ser meu amigo, eu serei teu amigo. Se quiser que eu seja teu pai, eu serei teu pai. Se quiser que eu seja o teu deus, eu serei teu deus". Simultaneamente, Jim Jones fabrica milagres em seus cultos - há pessoas infiltradas na plateia que finge enfermidades e curas mediante as suas orações. Mediante a ingenuidade destas massas excluídas, sua popularidade só aumenta.

Isto acaba por incomodar demais a sociedade conservadora de Indiana e Jim Jones, que sempre sofreu uma espécie de mania de perseguição (seria a culpa?), se sente pressionado de tal maneira que acaba por sair de lá temendo por sua vida. Logo ele se instala em Califórnia e, posteriormente, em San Francisco, onde chega até mesmo a ganhar posição de destaque, graças as diversas mobilizações públicas que surgiram entre os anos 60 e 70. Onde havia um protesto, Jim Jones levava diversos ônibus repletos de fieis e faziam um grande volume as manifestações existentes. Logo Jim Jones ganhou apoio de uma série de simpatizantes e chegou até mesmo ao cargo de secretário de habitação.

Esta mania de perseguição fazia com que Jim Jones cobrasse em demasia a fidelidade dos membros de sua igreja em seus cultos. Ele praticamente não tolerava o abandono dos fieis. Para evitar este tipo de prática, qualquer desvio era seguido de agressão em pleno culto. Há casos de pessoas que tiveram que se despir em público, para que a mesma fosse humilhada e até de outras pessoas que perderam os sentidos em agressões físicas. Imposto o terror, o medo fazia com que até mesmo os parentes de uma família delatassem uns aos outros, gerando um clima de insegurança muito grande na comunidade.

Num destes acessos histéricos, houve uma vez que sua igreja se reuniu para comemorar o ano novo e um ponche foi passado para que todos os membros tomassem. Após todos terem bebido, Jim Jones simplesmente mencionou que aquela bebida estava envenenada e que tomos os 120 membros daquela ocasião morreriam. Embora pasmos, todos se resignaram e aguardaram os sintomas. Então Jim Jones, satisfeito, disse que aquilo era uma mentira apenas para testar a fidelidade de sua igreja. Suas neuroses chegavam a níveis estratosféricos.

Não obstante, líderes de movimentos negros como Malcolm X e Martin Luther King foram mortos entre os anos 60 e 70. Jim Jones passou a se drogar constantemente, e não raras vezes era pego alcoolizado pelos seus fieis. Ao que parece, um declínio de personalidade aliada à toda uma vida anormal e a história da própria época, fez com que o medo de ser morto por seus "inimigos" ficasse ainda mais a flor da pele. Jim Jones sempre comentava a respeito da conspiração.

Visita de Ryan à Jonestown

Planejando criar a comunidade perfeita seguindo as bases do socialismo, uma série de membros do Templo do Povo estavam construindo um vilarejo de 12Km² no meio de uma floresta em Guiana. Este vilarejo foi batizado de Jonestown - mais uma evidência do culto ao próprio pastor - e era uma cidade autossuficiente - plantavam, cultivavam e comiam da própria terra. Isolados do mundo, não havia nenhuma fonte de comunicação, a não ser um sistema de som que se fazia ouvir por toda a extensão do vilarejo - e o único som transmitido era a própria palavra de Jim Jones, que se valia do recurso 24 horas por dia.

Em 1977, alguns jornalistas conseguiram depoimentos de ex-membros do Templo dos Povos denunciando uma série de ocorrências, como uso indevido do dinheiro e das propriedades dos fieis, maus tratos, isolamentos, falsos milagres, abusos sexuais e psicológicos. Diante da matéria realizada, que antes da publicação foi lida para Jim Jones na integra - sendo que ele não tinha argumentos para se defender, o pastor sentiu a necessidade de fugir dali, visto que o ambiente que já estava tenso ficaria insustentável. Em questão de horas ordenou que todos os seus membros fossem para Jonestown, saindo de uma comunidade urbana e adentrando numa comunidade totalmente rural e afastada - o que denota uma abrupta mudança de rotina e estilo de vida.

Esquecidos no meio do nada durante todo ano seguinte, começaram a surgir diversos especulações sobre o Templo dos Povos na América. Diziam que ali havia campos de concentração, de trabalhos forçados, de orgias sexuais que envolviam até mesmo crianças entre outros boatos. Mediante uma certa pressão de seus eleitores, o congressista Leo Ryan anunciou uma viagem para Jonestown para conhecer as operações da seita religiosa. Munido de uma equipe e da imprensa, Ryan foi extremamente bem recebido e se encantou em demasia para cidade - segundo depoimento de Charles Krause, um dos jornalistas sobreviventes.

Dizia que desde a entrada até a organização da comunidade era algo notável e não havia como não impressionar. A noite uma festa de boas vindas foi dada por Jim James para toda a equipe, onde todos os membros se reuniram em tom festivo e amistoso. Encantando pelo que viu, Ryan disse em público que estava convencido que aquilo era realmente a melhor coisa que poderia existir na vida de muitas pessoas que estavam ali presentes. Os membros, em júbilo e êxtase, urravam e dançavam felizes, transmitindo uma energia incomparável.

Inicia-se o Conflito

Parece que tudo ia bem para Jim Jones e sua seita, entretanto no decorrer da noite, alguns membros começaram a entregar papéis escondidos para Ryan e sua comitiva pedindo para eles lhe tirarem de lá. Um destes papéis chegou a cair no chão e um membro fiel tomou conhecimento e levou para Jim Jones. Com estranheza entre a festa e estes bilhetes, Ryan desconfiou que tudo poderia ser uma fachada e resolveu interrogar Jim Jones frente as câmeras no dia seguinte, sob a acusação de manter seus membros em cárcere privado.

Jim Jones negou tudo e disse que todos os membros eram livres para sair e retornar quando bem entendesse. Ryan mencionou até mesmo um suposto pai que teria deixado sua família em Jonestown, mas que eles não podiam sair dali. Então Jim Jones contra argumenta dizendo que se o pai havia deixado sua família ali, não poderia ser ruim. Que isto o que estava sendo dito era uma mentira e que se alguém quisesse ir embora poderia sair dali agora mesmo.

Mediante esta afirmação, algumas ex-membros tomaram coragem para deixar Jonestown junto com o congressista Ryan e sua equipe. Houve um motim quando uma família foi dividida: uma mulher grita 'devolva o meu filho' enquanto uma outra pessoa a arranca de seus braços - acredito que possa ser algum parente do menino (talvez até o pai) que tentava ficar com a criança. Com o início do tumulto, um membro fiel à Jim Jones tenta esfaquear o congressista, que sai com sangue na camisa, as pressas, junto a pista onde se encontra o seu avião.

Chegando lá eles são emboscados por fieis da seita, que abrem fogo em toda a comitiva. Os sobreviventes se fingem de mortos entre os corpos caídos. Segundo depoimento, estes fieis chegaram a atirar a queima roupa para garantir a morte dos que estavam caídos. Logo, Jim Jones anuncia no sistema de som que o congressista Ryan está morto e que não resta alternativa, a não ser o suicídio coletivo.

O Suicídio Coletivo

É possível ouvi-lo dizendo: por favor, tragam a medicação. Então eles distribuem cianeto com refresco para ser ingeridos pelos fieis. Sob mensagens de "isto não é suicídio, mas um suicídio revolucionário", "se não podemos viver em paz, vamos morrer em paz" e promessas que dali a pouco estariam reunidos em outro lugar, os pais são orientados a darem primeiro a bebida para os filhos para depois ingerirem.

Segundo testemunho de sobreviventes, a maioria das pessoas sequer hesitava em fazer o que foi pedido. Um dos sobreviventes inclusive ajudou a sua esposa a morrer ao lado da avó. Fotos de famílias abraçadas e mortas podem ser encontradas facilmente. O estranho é entender como Jim Jones conseguiu neutralizar o medo de morte das pessoas, maior fobia que pode existir. Outra coisa que não entendo é que se haviam tantas denuncias de maus tratos, por que as pessoas não aproveitaram o momento para contra-atacar, ao invés de receberem o veneno pacificamente, com tanta serenidade. Outra coisa que não tenho capacidade para explicar é como os pais conseguiram matar os seus próprios filhos? 914 corpos, dentre as quais 303 eram crianças.

Pelo relato da época, foi dito que Jim Jones esperou todos se suicidarem e somente depois morreu, com um tiro. Não sabemos se foi suicídio ou se alguém lhe ajudou a morrer. Isto pouco importa, os fatos não se alteram: fanatismo é isto aí. Não dá para conviver com o fanatismo. Simplesmente é lamentável que estas páginas façam parte da história do mundo. Entretanto, assim como episódios referente ao nazismo, é preciso relembrar para que passamos fazer uma reflexão a respeito de nós mesmos, de nosso papel na sociedade e para onde desejamos caminhar.

E se você acha que esta história a respeito de Jim Jones é exagerada e romanceada para dar mais emoção aos fatos, saiba que existe um material extenso na internet a respeito do tema contendo não somente textos, mas imagens, vídeos e áudios de tudo o que foi descrito neste artigo. Vou recomendar somente um documentário de 90 minutos que pode ser visto do YouTube, mas existe muitas outras fontes de informação seguras a respeito do Templo dos Povos.

Vejam, reflitam, divulguem, discutam e lembre-se: o fanatismo é o inimigo comum a ser combatido. Respeito mútuo é mais do que necessário neste mundo onde nada mais surpreende. No universo hiper-real, transferir seus questionamentos e absorver respostas prontas pode ser uma tarefa tanto quanto perigosa.

Atitude Crítica e Investigativa

terça-feira, 19 de outubro de 2010


No universo hiper-real a impossibilidade de conhecer a essência do mundo em si gera um fenômeno de aprendizado condicionado. Logo, todo o conhecimento adquirido pode ser questionado, visto que em nenhum horizonte do saber possuímos barreiras de concreto. Há até mesmo quem afirme que todo o conhecimento é mutável, ou seja, todas as verdades definitivas são apenas temporárias. Adotar um postura cética em relação as coisas pode ajudar a entender certos acontecimentos. Questionar, na contramão de apenas aceitar as coisas como são, é um exercício saudável que, ainda que não traga a tão almejada felicidade - objetivo final de vida da maioria dos seres - lhe traz equilíbrio, sabedoria, consistência e consciência.

O que acontece quando passamos a terceirizar nossas dúvidas? Quando transferimos os nossos temores para outras pessoas e prontamente estamos dispostos a aceitar os seus esclarecimentos? Inicia-se um efeito de contemplação onde o questionado detém o poder em relação ao questionador no momento em que o mesmo passa a ser convincente independente da veracidade de seu discurso (lembre-se que a verdade é simulada e/ou condicionada). Para isto o questionado pode valer-se de técnicas de retórica para uso pessoal ou mesmo assumir uma identidade simulada, onde passa a acreditar que seu discurso realmente é verdadeiro, de tal modo que ele mesmo se convence de si.

Quando o discurso sobressai a um certo montante surgem as doutrinas: as pessoas aceitam a condição de fé imposta pelo formulador de respostas e passam a aceitar esta verdade, algumas vezes temporariamente, outras vezes isto perpetua por toda a vida. Certas verdades criadas pelo estado hiper-real atravessam gerações e fincam as garras no comodismo gerado pela aceitação das comunidades. Ser cômodo é não se esforçar para sair de um estado, dada uma ou mais condições. Há uma sentença que diz "felizes são os ignorantes", que pode ser verdadeira mediante definição de felicidade como passar ileso pela vida sem aperceber-se dos perigos que nos rondam enquanto pessoas e sem fazer nada para mudar o universo tal como ele é.

Assim é possível pensar por que optamos por tomar uma postura cômoda ao invés de uma postura ativa. Pensar cansa. Pensar dói. Uma vez que decidimos por tomar a via cruxis da dúvida, deixamos a ignorância de lado e nunca mais poderemos ser felizes - entendendo a felicidade como definida no parágrafo anterior. Porém podemos redefinir a felicidade, visto que um significante poderá ter diversos significados distintos mediante interpretação e experiência - aí sim podemos ser felizes. Não aquela felicidade dos ignorantes, mas a felicidade de quem não quer deixar-se ser enganado.

Pouco importa se o fruto disto for verdadeiro ou falso, visto que de qualquer maneira não há como afirmarmos nada. O que importante é não se entregar as conclusões sem conhecer os fatos e pormenores. Investigue, deduza, repare e faça um juízo mais crítico. Conclua por si só. Este exercício ajudará a expandir um pouco mais suas dúvidas e diminuir as suas crenças e convicções. Talvez percamos algumas horas de sono, entretanto conheceremos melhor o solo a qual estamos pisando.

The Tiririca Effect

quarta-feira, 29 de setembro de 2010


Novamente estamos em tempo de eleições presidenciais. Aquele momento de consciência adquirida onde a "democracia" fala em alto e bom som, cujo futuro do país é decidido pelas massas e a nossa relevância é tão grande que nosso desejo de interferência e direção é atenuado a níveis estratosféricos - tanto é que o nosso "anseio" pelo voto o torna obrigatório. Chegamos naquele momento onde deixamos de ser merda e passamos a ter importância para quem controla as rédeas de nosso maravilhoso país, que não tem culpa alguma se os dirigentes a qual elegemos não fazem jus as suas riquezas e a sua imensidão.

É tempo dos políticos eleitos mostrarem o quão árduo é o seu trabalho e o quanto foi feito até então. Devemos, inclusive, nos sentirmos penosos por não agraciarmos tão belo trabalho. De fato, somos sujeitos sem um mínimo de educação, visto que bastaria um mísero obrigado aos responsáveis por tanto progresso social. Mas não há problemas, por que estes não são rancorosos, um voto de rendição basta: um voto apenas e o perdão será concedido. Um voto de reeleição.

Eis que surgem novos candidatos que irão sujar as mãos por nós, que irão combater os cavaleiros negros que tomam posse de nossos direitos. Dentre tantas promessas, temos o sonho de Moisés e a jornada pela Terra Prometida, que jamais saiu do papel e que hoje é apenas um dos tantos nomes da Utopia. Estes novos candidatos trazem debaixo do braços apenas mais do mesmo: propostas já conhecidas, propostas já trabalhadas, propostas e propostas.

Daquelas ruas esquecidas por entre becos sinuosos, cobertos por uma escuridão tão profunda que a própria palavra não vinga tamanha obscuridade, surge, como as canções perdidas no tempo, os mais sangrentos escândalos de todas as gerações. Ataques cruéis, ataques sem pudor. E nós, o povo reprimido, sem ser consultado, somos obrigados a observar a formação do picadeiro. O fantástico circo de Brasília está armado. Mas que circo estranho é este onde não podemos sorrir? Onde os artistas fingem seriedade nas mais engraçadas piadas? Queremos gargalhar, porém neste espetáculo a risada está proibida.

Então os anos acumulados de riso contido parecem, enfim, que irão acabar. No picadeiro do universo, neste palco manchado, surge o velho palhaço - e nós quase estouramos de tanto rir. Sim, deixaram o palhaço para o fim do espetáculo por que eis o protagonista da profanação de nossa seriedade. O palhaço é a resposta para a subestimação do poder popular. O palhaço é o retrato vivo de como o nosso olhar vislumbra estes demônios nojentos de terno e gravata que finalmente vem até a nós. E quando se misturarem a nós como se fizessem parte das pobres comunidades e perguntarem com a boca escancarada com dentes brilhantes "cadê o palhaço?" vamos lhes oferecer o espelho da verdade nata e questionar ironicamente "agora pode ver o palhaço?".

O voto no palhaço figura o voto da ironia, da retomada do poder pelo povo, do sentimento que não queremos mais ser enganados. O voto no palhaço não é nada mais do que a nossa vez de fazermos uma piada engraçada. O voto no palhaço representa o voto num ser que não se esconde por trás do seu disfarce, que não finge ser aquilo que não é, senão um mero palhaço, que traz em seu figurino e dentro de sua cartola uma série de palhaçadas explícitas - nada fingido, nada que fuja ao propósito de ser o que se é.

Se debaixo da lona temos uma série de outros palhaços dissimulados, cuja carapuça cai com este que não se esconde, se temos tantos palhaços eleitos, será que devemos colocar mais um lá? Já contamos a nossa piada, já mostramos o nosso valor, será que não seria esta uma boa hora para removermos a figura do palhaço parlamentar? Sim, senhores, já mandamos a nossa mensagem e mostramos a nossa insatisfação. Claro que o sol continuará a brilhar, mas também haverá tempestades e dias frios - tentemos, então, evitar a tormenta, pois no fim somos nós que ficamos soterrados debaixo deste mar.

O Pastor Que Queria Queimar Alcorãos

sábado, 11 de setembro de 2010


Recentemente um homem dito pastor de uma pequena igreja nos EUA ameaçou queimar exemplares do Alcorão, sob forma de protesto aos ataques as Torres Gêmeas no 11/09. Este ato acabou por chamar a atenção da mídia internacional, inflamando fundamentalistas do Islã - dada a tamanha ofensa em relação ao seu credo.

Independente do credo, das consequências, da literatura, da ação da mídia e da fé por trás da façanha, vamos analisar isoladamente o comportamento do pastor, a qual poderia ser aplicada também em relação à outros exemplos: incentivo à violência. Mesmo que não aja uma retaliação por parte dos agredidos (e mesmo que aja), temos aí um caso de típica intolerância - cuja consequência é retratada através da violência moral apresentada pelo episódio.

Basicamente o slogan da provocação diz: Dia Internacional da Queima de Alcorãos no Próximo Dia 11/09. Uma campanha que obviamente chocou pessoas ao redor do mundo justamente por ser insensata. A insensatez não é doravante de caminhar sinuosamente por um terreno perigoso - que é por onde caminha os fundamentalistas mulçumanos - mas está mais relacionada a atitude de um homem em desrespeito aos demais.

Ainda que o assunto não tomasse tamanha proporção - mesmo que não deixe de ser um suculento alimento para a mídia - e ainda que fosse um caso isolado de sua vizinhança ou do seu ciclo de relacionamentos, o fato é que temos aí um desvio lógico de comportamento social. Basta acompanhar: quando retiramos todas as camadas e deixamos o objeto de análise desnudo observamos que não há sentido em queimar livros - independente de posição ética e social. Quando agregamos ao objeto um valor, como é o caso, além do conteúdo passamos a ter alguma preciosidade implicita que diz respeito a algo ou alguém - o valor é condicionado à experiência do sujeito em relação ao objeto.

Quando pensamos em destruir este objeto, temos então uma demonstração de poder destrutivo ao objeto condicionado que fere a moral daqueles que o condicionam. Ou seja, não temos aqui somente um protesto, mas uma vontade de ferir o espírito alheio, seja motivado por vingança, ódio ou qualquer outro sentimento malígno que extrapola os limites da razão. O assunto não condiz com seguir um caminho diferente da normalidade, mas de seguir um caminho distante do que se espera daqueles que tenham o chamado bom senso (que é um capítulo a parte a ser discutido).

Curiosamente, ainda que a análise se aplique a qualquer um, temos aí um pastor, uma pessoa que, em tese, deveria ser a antítese do pensamento negativo. Claro que ele sabe e entende o seu ato, então só nos resta duas alternativas: ou este cidadão está agindo por uma ideologia de mudança, onde os cristãos vem perdendo seguidores em contrapartida aos muçulmanos, que aumentam sua presença em países onde o Islã não é a religião predominante (inclusive nos EUA, onde um templo islâmico deve ser inaugurado nas imediações do WTC - o que também não é saudável), ou então é um charlatão em busca de publicidade - possibilidade que deve ser seriamente considerada em vista aos novos fatos (foi noticiado que o pastor não irá mais queimar os livros).

Ainda que a publicidade barata pareça ser o real objetivo de tal pastor, este não é o escopo deste artigo - logo não iremos a relevância da imagem/aparência no mundo (o que pode ser encontrado com facilidade em diversos outros bons artigos publicados em outros blogs), mas sim a relação entre signo, significados e significantes no episódio do pastor. Ao classificarmos o livro Alcorão, temos um significante que trás consigo um significado sacro na vida islâmica, um significado de terror visto pela ótica sensacionalista da mídia internacional e um significado de desdem para aqueles que foram afetados de alguma forma no episódio do WTC.

Três significados totalmente diferentes para o mesmo significante. Isto ocorre por que o signicante possui signos diferentes. Visto que numa relação hiper-real é o objeto que orienta o sujeito, fica claro entender por que há tanta especulação, divergência e motivações distintas em torno do mesmo objeto.

Mesmo com uma explicação filosófica para a coisa em si, o ser humano foi dotado de discernimento para saber se os seus atos são bons ou ruins. Por isto afirmei que o pastor, por mais que tenha motivações, seja por merchandising ou por ideologia, sabe exatamente que aquilo que ele estão fazendo não é bom e nem poderia repercutir de uma maneira positiva.

É este discernimento que faria você estranhar o fato de seu amigo queimar um livro, ainda que fosse qualquer um da saga Crepúsculo, por puro prazer. O mais provável é que você diria consigo que falta um parafuso no cérebro de seu amigo, afinal ele poderia simplesmente vender, doar ou mesmo jogar o livro na lixeira, sem causar nenhum barulho através deste ato.

O Contra-Ataque

sexta-feira, 9 de julho de 2010


Recentemente foi noticiado que um garoto francês foi subitamente esfaqueado por outro. Motivo: sei lá qual poderia ser a descrição mais correta para o correto, mas certamente deveria ser algo proveniente dos síntomas do insano universo hiper-real a qual estamos todos condenados.

Para esclarecer, até há bem pouco tempo, uma febre se espalhou nos meios cibernéticos e que fez a "felicidade" de muitos humandróides. Esta febre inaugurou um boom de lan-houses nos quatro cantos do mundo. Se trata do jogo virtual Counter-Strike, onde dois times são divididos (os mocinhos e os bandidos) e combatem entre si munidos de um arsenal de armas.

Enquanto fora das telas a covardia impera, dentro do jogo a coragem - aliada a uma habilidade de muitas horas em frente ao computador - é um ingrediente essencial. Porém desta vez a "barreira" que envolve a ficção da realidade não foi o suficiente para impedir um jogador de continuar a partidade no mundo de carne-e-osso.

Após um duelo entre dois jogadores na internet, onde ambos estavam munidos apenas com facas, o derrotado passou 6 meses procurando quem foi aquele que massacrou a sua personagem virtual no jogo.

Após descobrir a identidade e o endereço do sujeito, o derrotado foi até a residência do vencedor do duelo e resolveu pedir a revanche pessoalmente. Ou seja, esfaqueou o pobre coitado, que por pouco não morreu.

Temos aqui um problema de conflito psicológico, onde o agressor não conseguiu separar o real do imaginário. No caso, sua derrota no jogo representa uma ofensa pessoal de tal gravidade que ele precisou se vingar pessoalmente.

Veja que a máquina vagarosamente mescla os dois universos com uma lógica interessante: uma pessoa em dois universos (virtual e real) coexiste em um único universo (o hiper-real). Logo o aperfeiçoamento da realidade, que converge cada vez mais numa dependência tecnológica que aperfeiçoa o homem, torna esta uma vida simulada.

Hiper-Realidade Platônica

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A Caverna

Embora o conceito de hiper-realidade seja melhor explorado nos dias atuais, por representantes da semiotica e dos movimentos conhecidos como pós-modernismo e pós-estruturalismo, podemos encontrar um ótimo exemplo sobre como se dá a vivência do hiper-real nos dias atuais num dos textos filosóficos mais conhecidos do mundo: a alegoria da caverna, do grandioso e inesgotável Platão.

De grosso modo, o texto ilustra um grupo de homens, que nascem e crescem numa caverna, cujos braços e pés estão acorrentados de modo que eles não conseguem voltar-se para a entrada da caverna: estão sempre virados para uma parede. Do lado de fora da caverna, há um pequeno muro e uma fogueira. Conforme as pessoas passam e conversam, suas sombras são projetadas para as paredes onde se encontram os prisioneiros.

Logo, eles tomam as sombras como a única realidade possível. As formas projetadas pela fogueira são as únicas coisas que eles conhecem. Porém chega o dia em que um prisioneiro consegue se libertar. Vagarosamente e com muita dor (gerada pela luz do sol) ele acaba por descobrir com as coisas realmente acontecem. Ansioso, volta para a caverna e explica para os seus companheiros que aquilo que eles veem são somente sombras projetadas por uma fogueira, e que o mundo é bem diferente do que eles pensavam.

Porém os seus companheiros não acreditam nele, acabam por zombar do pobre e acham, inclusive, que a luz fez mal para o discernimento.

No universo hiper-real acontece de forma semelhante. Aquilo que é cru é aperfeiçoado de modo que não conseguimos discernir entre ilusão(adorno) e realidade (essência). De singular maneira, temos uma essência adornada objetivada a mascarar o real. Esta nova camada de "realidade", embora virtual, é algo que faz parte de nosso dia-a-dia e acabamos por usufruí-la. Assim sendo, não aproveitamos um falso real, mas um hiper-real.

Quando os prisioneiros foram acorrentados a caverna, lhes foram negados o direito de conhecer o que havia além dali. Entretanto o homem instintivamente encontra uma maneira de explicar a sua vida através de um método mítico, ou seja, associado a ilusão, aos sonhos e desejos.

A caverna não era algo falso, pois ali residiam pessoas com o potencial de conhecer. Eles assim fizeram, na medida do possível. Entretanto, graças ao desertor, nós descobrimos que as coisas não eram bem assim. Descobrimos que os prisioneiros viviam uma hiper-realidade.

Eles viviam uma vida metaforicamente semelhante a nossa, onde muitas vezes o conhecimento não é possível, graças a um processo de implantação de hiper-realidades. Não temos mais como distinguir quais são as essências de nosso universo, então as questões continuam aí: Quem somos? Onde estamos?

Enquanto o desertor da caverna conseguiu se livrar dos dogmas ao seu redor, nós vivemos num ambiente simulado: temos problemas para encontrar referências seguras. Aqui são milhares de possibilidades, sendo que a verdade até pode estar por aí, mas é irreconhecível perante o hiper-real.

Talvez a melhor proposta seja uma primária negação diante do mundo enquanto fenômeno, porém caímos num buraco sem fim. Não temos raízes únicas para nos apegarmos. Tudo é explicado através de pressupostos e postulados. Enfim, flutuamos pensativos num universo infinito.

Aqueles que assim entendem identificam-se com o desertor: viram alguma coisa a mais, porém não tem para quem contar. Caminham solitariamente, com o sentimento frustrante de não ter atenção, e com a dor de não conseguir salvar a ninguém. Os prisioneiros continuam presos em suas cavernas.

Conforme escrito por Platão:

Glauco: Que estranha cena descreve! E que estranhos prisioneiros!
Sócrates: São iguais a nós.

O Sistema do Injusto

domingo, 30 de maio de 2010

O Sistema do Injusto

Ao assistir Capitalismo - Uma História de Amor, brilhante documentário escrito edirigido pelo polêmico Michael Moore, uma entrevista com um padre me chamou a atenção. Em síntese, ele dizia que segundo os ensinamentos cristões, o capitalismo não poderia ser visto com bons olhos, visto que Jesus sempre pregou a união entre todos os homens, a ajuda e o respeito mútuo, e mesmo uma a sociedade sem distinção.

De fato, no capitalismo os valores são justamente o inverso do citado pelo padre. Para enriquecer necessitamos tirar algo de alguém. É uma disputa constante. Ao invés da união, prevalece o individualismo. Um jogo em que pouquíssimos saem vitoriosos. Como um sistema hiper-real por excelência, nós só sabemos o que acontece se alguém nos informar, e uma vez que a origem da informação poderá ser simulada, a verdade é que nada sabemos.

Algumas mídias alternativas, aquelas que são abafadas pela principal, sempre procuram nos trazer uma informação que vai na contramão do que é comumente dito por aí, porém logo alguém caracteriza tal informação como uma espécie de teoria da conspiração. Se realmente estão conspirando ou se realmente dizem a verdade, não temos como saber, por isto digo que mesmo as novidades estão num nível estratosférico hiper-real.

A máquina é responsável por gravar em nossa mente palavras como "liberdade" e sentenças como "o céu é o limite", "você é livre para fazer o que quiser" ou mesmo "o sistema das oportunidades", porém a verdade é que este é um sistema oportunista e que hora ou outra irá sucumbir. É impossível que um sistema que visa o consumo constante consiga vender alguma coisa num mundo onde cada vez as pessoas comprometem totalmente o seu rendimento. Num sistema onde a maior parte do que as pessoas ganham são para pagar juros e impostos.

Se a demanda por crédito cresce, isto significa que as pessoas não tem dinheiro. Elas precisam financiar uma aquisição por que o que possuem na conta não dá conta do recado. A maioria dos carros são vendidos sob concessão de crédito, assim como o financiamento imobiliário. Com o aumento dos prazos para pagar, a pessoa fica endividada por mais tempo ainda, ou seja, pouco sobrará para novas aquisições. Cada vez mais as instituições financeiras aumentam os prazos para aumentar o seu lucro a longo prazo e também para diminuir o valor das parcelas, e assim aumentar o poder aquisitivo dos consumidores, sedentos por comprar.

Uma hora não dá mais para apertar. Chegará o dia em que uma pessoa de 30 anos de idade ficará devendo integralmente os seus rendimentos por mais da metade de sua vida. Então as pessoas perderão o seu poder de compra. Claro está que a coisa só beneficia os detentores do dinheiro. Aquela pequena casta da sociedade que rege tudo mais, que dita modismos e tendências, que controlam o que você lê e ouve.

É uma casta perigosa que vale do artifício proporcionado pelo deus-dinheiro para controlar todos os demais. Porém esta casta é composta por homens egoístas: sendo homens eles também erram e uma hora perderão. Este é um sistema de injustiça baseado em exploração. É assim que as coisas funcionam. Todos sabem, só não sei por que ainda conseguem sorrir. Vai ver que pensam que são livres.

Sou feliz em saber que se me tiram o dinheiro, eu ainda tenho dignidade, opinião, uma família para amar, serenidade e persistência para começar de novo. Agora quanto a estes mandatários, se lhes tiram o dinheiro eles ficam totalmente pelados, sem ter para onde ir ou correr. Do mesmo modo que se você arranca a fama dos famosos, parece que o único caminho disponível para eles é a miséria e a decadência.

Eu não sou assim. Não precisa ser assim.